Até recentemente, acreditava-se que mulheres mais velhas, especialmente aquelas com mais de 65 anos, não deveriam receber Terapia de Reposição Hormonal (TRH) por supostamente não apresentarem mais os sintomas da menopausa. No entanto, muitas mulheres continuam a sofrer de sintomas como os “fogachos” mesmo após mais de 10 anos do início da menopausa.
Um estudo recente, publicado no periódico Menopause, reacendeu o debate sobre a duração apropriada para a indicação e manutenção da terapia hormonal na menopausa.
Os pesquisadores analisaram os registros de aproximadamente 10 milhões de mulheres com mais de 65 anos, de 2007 a 2020, comparando taxas de mortalidade, incidência de cinco tipos de câncer (incluindo mama), eventos cardiovasculares e demência entre mulheres que não realizaram TRH e aquelas que seguiram o tratamento ao longo dos 14 anos de observação.
Comparado com as mulheres que nunca usaram ou interromperam a terapia hormonal após os 65 anos, o uso isolado de estrogênio foi associado a reduções significativas na mortalidade (19%) e no risco de câncer de mama (16%), câncer de pulmão (13%), câncer colorretal (12%), insuficiência cardíaca congestiva (5%), tromboembolismo venoso (3%), fibrilação atrial (4%), infarto agudo do miocárdio (11%) e demência (2%). Por outro lado, a combinação de estrogênio com progesterona aumentou o risco de câncer de mama (10% a 19%), embora esse risco tenha sido reduzido com doses mais baixas e preferindo as vias vaginal e transdérmica. A associação com progesterona foi vinculada a reduções significativas no risco de câncer endometrial (45%) e câncer de ovário (21%). O uso isolado de progesterona também foi associado a uma redução de 10% no risco de câncer de mama.
Curiosamente, durante os 14 anos do estudo (2007-2020), a quantidade de mulheres recebendo TRH caiu pela metade, provavelmente refletindo o impacto de estudos como o WHI e outros sobre médicos e pacientes. Observou-se também uma mudança no tipo de reposição prescrita, com o conjugado de estrógenos equinos sendo substituído pelo 17 Beta estradiol e uma redução no uso da via oral. Um dado significativo foi que a quantidade de mulheres fazendo reposição apenas com estrogênio é 10 vezes maior do que o número de mulheres que faz a terapia combinada de estrogênio com progesterona.
Fica evidente que as implicações da Terapia de Reposição Hormonal para a saúde da mulher estão fortemente ligadas ao tipo de hormônio, doses e vias de administração. Em geral, as reduções de risco parecem ser maiores com doses mais baixas, preferindo as apresentações vaginais ou transdérmicas em vez da via oral. Nesse sentido, os avanços tecnológicos recentes na área de reposição hormonal têm viabilizado o uso seguro desta terapia.
Na minha opinião, os implantes hormonais permitem uma personalização do tratamento hormonal, algo especialmente importante para mulheres a partir dos 65 anos, oferecendo doses fisiológicas com liberação contínua e sem as oscilações associadas às apresentações de uso diário.
Como sugerido pelos autores do estudo, a decisão de iniciar ou manter a terapia hormonal após os 65 anos deve considerar os riscos e benefícios, levando em conta as condições de saúde específicas de cada mulher. No entanto, não há uma recomendação geral para interromper a TRH nessas mulheres.
Resumo de um estudo publicado no renomado periódico “Menopause” feito por Dr. Francisco Tostes, especialista em terapia hormonal com implantes absorvíveis e Diretor Científico da SottoPelle Brasil.